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Vidas NEGRAS Importam

No dia 08 de junho, há vinte dias do assassinato de João Pedro Motta, há uma semana da morte do menino MiguelOtávio Santana da Silva (02/06) e duas semanas da morte do americano George Floyd, em memória das milhares de mortes de brasileiros e brasileiras negros e negras vítimas da violência e negligência do estado, o Bispo Maurício Andrade, Bispo da Diocese Anglicana de Brasília, a Revd. Tati Ribeiro, Pároca da Catedral Anglicana da Ressurreição, e um grupo de pessoas membros da comunidade, fizeram um ato em frente ao templo em memória a todas as pessoas mortas por causa da cor de sua pele, dos traços de seus corpos. A comunidade da Catedral Anglicana da Ressurreição se ajoelhou em frente ao templo lembrando que não é possível seguir de pé como se tudo estivesse bem, e ergueu seu braço lembrando da luta das pessoas oprimidas para viver sem medo e em paz.

 

A estrutura racista de nossa sociedade, herança do período colonial, e a forma como a religião cristã foi conivente com séculos de escravidão demonstram que precisamos falar sobre racismo e agir contra ele. É urgente assumirmos de forma mais direta e franca essa conversa, porque não basta não sermos racistas, precisamos lutar contra toda forma de racismo e preconceitos. Precisamos levantar nossa voz e nossos corpos para defender as vidas negras e não permitir e nem nos conformar com as mortes de tantas crianças, jovens e adultos.

 

A Igreja não pode mais aceitar calada que vidas sejam ceifadas de forma tão brutal e injusta. Durante muito tempo as igrejas cristãs aceitaram teologias que negavam que pessoas negras tinham alma, as quais foram usadas como ideologias para permitir a escravização. Essas teologias precisam ser, cada vez mais, rejeitadas e vistas como uma construção pecaminosa que retira o valor que Deus dá a todas as pessoas.

 

O Cristo a quem seguimos e somos discípulos e discípulas é negro! Não somente numa perspectiva fenotípica, mas também no sentido de que raça marca e marcou o lugar social do nosso Irmão, nascido em Belém, mas criado numa vila periférica: Nazaré, “pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo.1.46). Ele foi sobrevivente de um genocídio perpetrado pelo Estado (Mt. 2.16) e acolhido em África como refugiado (Mt. 2.13) e, apesar das lutas e dores, nos chama à vida e ao amor. É preciso fazer reviver em nossas memórias quem é o nosso Cristo, de onde veio, como viveu e com quem se pareceria hoje.

 

É preciso dizer que Vidas Negras Importam, porque pessoas negras têm sido assassinadas injustamente, como se suas vidas não tivessem valor, e agora repetimos: VIDAS NEGRAS IMPORTAM, porque cada vida importa e é sinal da presença de Deus, pois foi criada a sua imagem e semelhança: mulheres, homens, sejam, negras, indígenas, brancas, trans, lésbicas, gays, héteras, estrangeiras, periféricas, portadoras de deficiências. Todas as pessoas são amadas por Deus e têm o direito de viver com segurança e serem respeitadas!

 

Como comunidade, somos solidárias com a dor de todas as famílias que choram a morte de seus filhos e filhas, vítimas da violência brutal de uma sociedade ainda racista e preconceituosa e de um estado que deveria proteger, mas, mata.

 

Cremos no Deus que se fez gente, gente negra, periférica, sofrida, perseguida pelo Estado, mas que venceu a morte e nos traz vida para ser vivida em abundância. Cremos no Cristo Vivo que caminha ao nosso lado na luta diária por uma vida de amor, em paz e segurança. “Cremos na esperança de recomeçar, na beleza do gesto solidário, na justiça para toda opressão, na compaixão diante da dor, no amor, dádiva divino-humana” (Livro de Oração Comum, p.122)

 

“As vidas negras importam. Vidas indígenas importam. Nossa fé não combina com racismo, nossa fé combina com amor que constrói a inclusão de todas as pessoas, independente de sua cor ou orientação sexual. Quando nos posicionamos nesse ato em frente da nossa Catedral, reafirmamos nosso compromisso contra toda forma de racismo e discriminação, porque somos uma Igreja inclusiva e aberta para acolher a todas as pessoas.” –  Bispo Maurício Andrade

 

“Não vamos jamais admitir qualquer tipo de preconceito em nossa comunidade. A catedral está aberta para TODAS as pessoas, para aqui viverem sua fé e serão respeitadas. Lutamos para a igreja ser um espaço seguro para que as pessoas encontrem aqui: respeito, amor fraterno, compaixão, solidariedade e também possam encontrar uma comunidade que vive o “amor, perfeito amor que lança fora todo medo”, e em nome desse amor, não temos medo de lutar contra toda forma de racismo, preconceito, injustiça e violação de direitos.” – Revd. Tati Ribeiro

 

“Toda mulher e homem preto tem a dura angústia de saber que seu filho tem 3 vezes mais a possibilidade de ser atingido pela violência, a morte vem de todos os lados, não temos escudos, até os agentes do Estado são possíveis agressores e assassinos de nossas crianças. Ser pai ou mãe preto é ser resiliente, é ensinar aos filhos a terem uma postura honrada mesmo diante a submissão do poder de polícia do Estado, é ter medo dos telefonemas na madrugada todos os dias.  Mas seremos guerreiros como  foram nossos ancestrais, que foram escravizados e nas piores condições ainda foram coluna na construção de nações. O povo preto luta e chora por seus filhos, suas crianças todos os dias durante o genocídio, mas não deixaremos de lutar pela equidade.” – Saulo Lino

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Postado em

9 de junho de 2020