“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade” (Mt 23:27-28)
A Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil-IEAB, seguindo o discernimento sobre a conjuntura política brasileira já publicamente expresso em seus posicionamentos desde 2016, isoladamente ou em conjunto com outras Igrejas, vem mais uma vez repelir e denunciar agravamento das tensões e o ataque ao Estado Democrático de Direito no Brasil, em especial por ocasião dos últimos acontecimentos com a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Pois “A minha boca falará sem cessar da tua justiça e dos teus incontáveis atos de salvação. Falarei dos teus feitos poderosos, ó Soberano Senhor; proclamarei a tua justiça, unicamente a tua justiça. Desde a minha juventude, ó Deus, tens me ensinado, e até hoje eu anuncio as tuas maravilhas”. Salmos 71:15-17
A convergência de diversos fatores como o mau funcionamento das instituições responsáveis pela sustentação da democracia, a falta de autoridade e de legitimidade dos Poderes da República e os interesses de poderosos setores da mídia tradicional e da sociedade civil (notadamente, associações patronais e de proprietários de terras e movimentos politicamente de direita), tem produzido um gravíssimo desmonte das conquistas democráticas das últimas três décadas, inclusive muitas consagradas na Constituição de 1988.
O ritmo do Golpe de 2016 tem expresso uma ânsia por aprofundar ao máximo e no menor espaço de tempo possível a reversão de direitos sociais e trabalhistas, a privatização de serviços públicos e riquezas naturais e mecanismos legais e de política pública para o enfrentamento da pobreza e de promoção da igualdade social, étnico-racial e de gênero.
A Comunhão Anglicana no mundo, em três de suas cinco marcas da missão, compromete-se a: (a) responder às necessidades humanas com amor; (b) procurar a transformação das estruturas injustas da sociedade, desafiar toda espécie de violência, e buscar a paz e a reconciliação; e (c) lutar para salvaguardar a integridade da Criação, sustentar e renovar a vida da terra. Frente a estes princípios de fé, entendemos que a atual situação brasileira atenta gravemente contra esses compromissos e desafia a missão cristã no país ao chamado da fidelidade ao Evangelho da Justiça, do Cuidado, do Amor e do Diálogo respeitoso e constante.
Em particular, denunciamos interpretações que reforcem o ódio, o malquerer, a injustiça e o uso/abuso do poder para aprofundar desigualdades, manter privilégios de qualquer grupo e agredir a natureza porque se chocam com nosso entendimento da fé cristã.
Por isso, conclamamos as pessoas comprometidas com a democracia e o Estado de Direito, de qualquer fé ou sem nenhuma, dentro e fora das instituições de governo, a elevarem as suas vozes corajosamente, mobilizarem-se coletivamente e denunciarem insistentemente, aqui e ao mundo, as violações de direitos que se praticam hoje no Brasil.
Como pessoas cristãs, advertimos para a dimensão confessional e de testemunho que a situação atual exigi das pessoas em termos de obediência e ação.
Orar sem cessar e trabalhar intensamente para que a verdade prevaleça e a justiça seja feita; o amor seja o pão nosso de cada dia. E que as pessoas que são perseguidas por causa do seu compromisso com a justiça, contra a fome e a desigualdade, se sintam amparadas por essa comunidade global que as apoiam, sustenta e se conecta a elas em oração.“Buscai a justiça e tudo o mais vos será acrescentado”. Por isso, irmãs e irmãos “orem sem cessar” e profetizem nas ruas que só a “verdade vos libertará”.
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”. (Mateus 5:10-11)
Pela democracia, pela justiça, pelo testemunho evangélico!
Santa Maria, 10 de abril de 2018.
Dom Francisco de Assis da Silva, Primaz e diocesano em Santa Maria
Dom Naudal Alves Gomes, Diocese Anglicana de Curitiba
Dom Maurício Andrade, Diocese Anglicana de Brasilia
Dom Renato Raatz, Diocese Anglicana de Pelotas
Dom Humberto Maiztegui, Diocese Meridional
Dom João Peixoto, Diocese Anglicana do Recife
Dom Eduardo Grillo, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Dom Clovis Erly Rodrigues, emérito
Dom Almir dos Santos, emérito
Dom Celso Franco, emérito
Dom Jubal Pereira Neves, emérito
Dom Filadelfo Oliveira, emérito
Dom Saulo Mauricio de Barros, emérito
Revda Cônega Marinez Bassotto, bispa eleita
Fonte: site www.ieab.org.br
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